terça-feira, 4 de novembro de 2008

Quando a vida começa

Yoga é relacionamento. Na minha opinião não há palavra que descreva melhor o conceito de yoga.
Um dos motivos pelo qual afirmo isto é o fato da palavra “relacionamento” referir-se a algo dinâmico, vivo, em constante mudança. Sendo que estamos falando sobre um conhecimento que trata da mente humana, nada melhor do que uma palavra que transmita este dinamismo. Mente parada não é mente, não há mente parada nem no início e nem no fim de qualquer processo de autoconhecimento. A natureza da mente é o movimento, portanto nunca poderemos pará-la. E, se formos bem sinceros, só desejamos parar nossos pensamentos quando estamos muito ansiosos ou quando estamos muito tristes, não queremos “parar a vida” quando ela nos faz feliz. Por isso, o Yoga não é um conhecimento que nos ajuda a “parar a mente” ou a “parar a vida”, mas um conhecimento que nos ensina o que é “relacionar-se”.
Há várias situações que, com certeza, todos nós já passamos, que nos deixam mais reclusos, sem vontade de encontrar ninguém. Com certeza isso não ocorre em momentos de felicidade. Felicidade faz com que nossos olhos fiquem mais abertos, com que nossos sentidos despertem. A tristeza restringe os sentidos, traz interiorização, eis porque também se faz necessária, graças a ela somos empurrados ao recolhimento que nos habilita refletir sobre o que está trazendo perturbação. Mas o principal ponto que quero abordar com esta colocação é o fato de que buscamos nos relacionar sempre que nos sentimos bem. Quando somos feridos por uma pessoa nós a evitamos, mas sempre relutamos em nos afastar de alguém que nos traz uma felicidade genuína.
Mas é necessário que eu explique um pouco mais sobre a abrangência da palavra “relacionamento” neste contexto. A palavra relacionamento aqui se refere a duas pessoas ou a uma pessoa e um objeto. Eu posso me relacionar com minha esposa, com minha filha, com um rio ou com um sentimento, por exemplo. E relacionar-se significa estar aberto à troca que ocorre com esta pessoa ou com este objeto. Não seria completamente correto, do ponto de vista psicológico, afirmarmos que a simples presença física determine a presença de um relacionamento.
E é por aí que eu termino hoje, introduzindo a idéia de que Yoga é o processo de compreender, de coração (ou seja, de maneira experiencial), que relacionar-se não é estar presente apenas fisicamente, mas estar ali inteiramente, aberto e receptivo. E, então, a vida começa (a ficar viva)...

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Psicologia do Yoga?

Por quê resolvi criar este blog?
Há alguns anos tenho sido convidado a falar sobre yoga em várias cidades e países. Sempre me senti muito feliz por poder me relacionar com tantas pessoas, de diferentes culturas, que refletem sobre si mesmas buscando constante amadurecimento. E, quanto mais converso com estas pessoas, mais vejo a surpresa que elas manifestam ao me ouvir afirmar que yoga é uma psicologia.
A maioria espera ouvir que yoga é uma prática espiritual, que yoga é um conjunto de técnicas de respiração e posturas físicas, que yoga é esvaziar a mente...
Mas, mesmo contrariando suas expectativas, a reação da maioria é de alívio. Ao invés de ouvir algo exótico, elas passam a ver um espelho de suas próprias vidas. E isso é bom, muito bom. Quando passamos a entender nossas emoções nos sentimos mais humanos, percebemos que há como olhar para nós mesmos com menos medo, com menos julgamento. Existe muita dor presente no ser humano pela simples falta de compreensão. Não só pela falta de compreensão que os outros manifestam perante nossos sentimentos, mas também pela falta de compreensão que nós temos de nós mesmos.
É por isso que resolvi iniciar este blog, para conversar mais abertamente com os interessados sobre esta visão psicológica ao mesmo tempo profunda e acessível.
Todas as técnicas existentes, seja no yoga ou em qualquer outro caminho, são muito limitadas se comparadas com os benefícios de fazermos uma reflexão sincera sobre nós mesmos. E isto não é uma invenção minha, isso é Yoga. Então, já que tantas pessoas têm se dedicado a falar sobre Yoga e respiração, Yoga e posturas, Yoga e espiritualidade, eu estou livre para falar sobre algo que fala mais ao meu coração: Yoga e psicologia. Este conceito será abordado aqui enfatizando os relacionamentos. Conversaremos bastante sobre como o "relacionar-se" é a maior fonte de frustração e a maior fonte de satisfação. E mais uma coisa, preciso ser justo, eu não estaria escrevendo hoje aqui se não fosse a insistência da minha querida mulher, Rosa Carolina, de que eu iniciasse um blog sobre este assunto. Fica aqui o meu especial agradecimento a ela, que, estando quase sempre presente em minhas palestras, me motivou a escrever sobre este assunto. Não fosse o entusiasmo que vejo no rosto dela e dos demais participantes presentes em cada palestra, eu não teria motivos para criar este blog. Obrigado a todos vocês.

Jorge Luís Knak