segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Onde está o yoga?


    
Por Jorge Luís Knak                                               

Yoga é uma experiência individual. É dito que é uma experiência que nasce de nossa conexão com o que há de mais íntimo, mais interno. Sendo assim, é um caminho solitário. É solitário como a morte, após um certo ponto ninguém poderá cruzar conosco. Talvez por essa razão o yoga tenha sido, por muito tempo, erroneamente visto como um processo que exige isolamento do mundo. Porém, isolar-se do mundo é muito fácil. Isolar-se do mundo é uma ação externa, e ações externas nunca serão alicerces a quem busca yoga. O isolamento de que trata o yoga é muito mais essencial do que isso, é isolar-se da crença de que há um porto seguro a ser encontrado lá fora. Ao longo de nossa vida os “portos seguros” normalmente vão apenas mudando de lugar, difícil mesmo é matá-los. Mas, reconhecendo nossa fragilidade e ignorância básica, devemos considerar que trocar “portos” externos por “portos” mais internos já é um ótimo sinal de crescimento. Isso ocorre não apenas em níveis mais abstratos ao longo da vida, mas em aspectos bastante tangíveis também. Quando nascemos precisamos de alguém “lá fora” para nos dar alimento, para trocar nossas fraldas, para nos proteger do frio e do calor, ou seja, somos dependentes do outro. Sem o outro, morremos. Às vezes exercito minha imaginação pensando na angústia que deve acompanhar uma criança que é abandonada, ainda sem condições de conseguir alimento. É um exercício doloroso. Durante alguns anos precisamos do outro, pois é ele que nos garante a sobrevivência. Vamos crescendo e desenvolvendo habilidades, aprendemos a caminhar e assim passamos a não mais depender do outro para ir de um lugar ao outro, aprendemos a pegar a comida, a colocar a roupa, a tomar banho. Um dia, descobrimos que não só sabemos colocar a roupa, mas também escolher qual colocar, descobrimos que não só sabemos levar o alimento à boca, mas sabemos escolher qual alimento. Independência, essa é a direção do ser humano. E essa direção tem algo de sagrado, algo de profundo, libertador e...solitário.

Ao iniciarmos nossa busca de yoga daremos, provavelmente, os mesmos passos. É o que se espera. Começaremos desejando um “porto seguro”, algo lá fora que me garanta tranqüilidade, força ou paz. Surge aí o primeiro possível obstáculo, acreditamos que alguma outra pessoa será mais importante do que eu mesma. Ouvi muitas vezes, de várias fontes, a afirmação de que o amadurecimento depende do aluno e não do professor. E muitas e muitas vezes respondi para mim mesmo que isso era óbvio. Após alguns bons anos comecei a entender que isso não era nada óbvio e que eu mesmo não acreditava nisso. Eu ouvia, achava que entendia, mas, de fato, não acreditava. Eis a irônica dicotomia: após dezenas de professores martelando nessa afirmação entendi que o professor e seu martelo não eram tão importantes. O yoga não será encontrado no professor ou no método, mas no aluno. Pois é o aluno que deseja yoga, aos outros cabe apenas auxiliar e direcionar. O yoga só será identificado em nós, pois somos nós que o experienciaremos. Assim como apenas nós mesmos identificamos nossa ignorância, nossas falhas, nossos medos, somos nós que identificamos nossa paz e nossa sabedoria. Precisamos encontrar nossas próprias armadilhas e ninguém mais poderá localizá-las por nós. Há inúmeras histórias de brilhantes alunos, não apenas em yoga, que receberam a confiança e o ensinamento de grandes professores e que acabaram por aproveitar o “conhecimento” recebido para causar danos a outros. Essa realidade nos aponta o precioso ensinamento de que o aluno é que faz a escolha, jamais haverá uma garantia externa. Podemos nos amargurar, nos debater e dar justificativas, ao invés de aproveitar para ouvir a confirmação do ensinamento. Podemos, inclusive, quando vivenciamos casos de abuso de poder e manipulação, como recentemente aconteceu com um de meus professores, continuar concluindo que o engano está “lá fora”, na pessoa do professor que seguiu o caminho errado. Mas não, o engano é meu, sempre que minha escolha é seguir o caminho da manipulação, do medo, do apego. E assim é para cada um de nós. Quando pararmos de brigar com as falsas frustrações e entendermos que elas apenas nos esclarecem ainda mais onde está o yoga, quando percebermos que não podemos descobrir se há yoga no outro, mas apenas podemos perseguir yoga em nós mesmos, estaremos mais próximos de uma caminho verdadeiro. Eu preciso olhar para dentro, mesmo na presença do mais “perfeito” professor. Eu preciso olhar para dentro, mesmo na presença do mais “ignorante” professor. Mantendo esse olhar, ao continuarmos nossos caminhos, não perderemos a nós mesmos e descobriremos as nossas verdades. Algumas verdades podem até vir na forma de ensinamentos externos (que vem de outra pessoa ou de alguma situação), mas ela só nos transforma após o nosso próprio processo de digestão e assimilação. O “porto seguro” não está lá fora, ele é justamente aquilo que há de mais íntimo, mais interno.

A reflexão que eu trouxe acima é, também, a base para um questionamento mais amplo sobre as linhagens de yoga e de outras tradições orais. Tradição oral significa um aprendizado que ocorre numa relação viva entre professor e aluno, já as linhagens são a continuidade ininterrupta dessas tradições específicas ao longo de muitos séculos. Essa “linha” contínua de professores-alunos-professores será a responsável para que esses ensinamentos permaneçam vivos e trazendo benefícios a muita gente em todas as épocas. A manutenção desses ensinamentos, se corretamente realizada, permitirá que a semente do conhecimento esteja disponível para gerações futuras, permitindo até mesmo que alunos futuros superem a clareza de seus professores. Mas como isso ocorre? Como pode o ensinamento ficar intacto mesmo em meio a todas as imperfeições humanas, ou seja, aos inevitáveis enganos dos professores e alunos? Como diferenciar o professor do ensinamento? Só poderemos diferenciar se soubermos realmente quem é o professor e quem é o ensinamento, ou seja, se tivermos uma linhagem mais sólida (com vários professores). Uma tradição frágil é aquela que depende de apenas um aluno em sua sucessão, ou seja, não há mais outra pessoa que tenha tido acesso aos ensinamentos. Krishnamacharya dizia que um professor deveria passar todo o seu conhecimento a “pelo menos” um aluno. Quanto mais o ensinamento ficar nas mãos de um único sucessor, mais riscos estarão presentes, pois dependeremos completamente da saúde física e mental dele. Uma das tradições orais que mais me impressiona, nos tempos atuais, em sabedoria, é a tradição budista tibetana. Apesar de eu ser um praticante e professor de yoga, não vejo nenhuma tradição de yoga com uma solidez que se aproxime do budismo. E, mesmo em meio à tradição budista, também veremos inúmeros casos de corrupção e assédio. Também veremos isso no Cristianismo e nos outros ismos, não faltarão exemplos. Os fatos nos apontam incansavelmente ao ensinamento: os erros humanos estarão lá, por mais que consideremos um ambiente “sagrado” ele acabará por nos apontar também o “humano”. E, graças àqueles que se dedicaram a algo maior do que seus próprios umbigos, o conhecimento continuará preservado.

Apesar da presença constante de apegos e de ignorância humana, não serão a ignorância e o apego que embasarão uma linhagem. Os enganos humanos podem até mesmo esconder temporariamente os ensinamentos, mas se houverem pessoas se dedicando à solidez das grandes tradições de conhecimento, eles estarão sempre disponíveis. A morte e a doença sempre existirão e levarão professores sábios, a ignorância sempre existirá e destruirá professores inaptos. Que possamos ouvir esses ensinamentos e manter o foco naquilo que trará benefícios mais permanentes a todos que buscarem o yoga no presente e no futuro distante.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

A-corda da Experiência Profunda

por Jorge Luís Knak

Samadhi, no yoga, é uma experiência vinculada à meditação. É quando a meditação gera clareza, compreensão profunda a respeito de algo sobre o qual estamos refletindo. Esta experiência é muito perseguida por praticantes de yoga e, aqui, meu propósito é desmistificar a sua importância (isolada).
Digamos que o samadhi seja a Rapunzel, confinada, como boa Rapunzel, mas careca. Sim, aqui nossa Rapunzel é careca. Ninguém gosta de inventar histórias de Rapunzéis carecas, mas, na história original, foi quase isso que ocorreu (o príncipe quase acabou cego e a Rapunzel quase acabou careca). Agradeço à bruxa por essa deixa.
A questão que abordo aqui é a seguinte: de que adianta uma Rapunzel, confinada no alto de uma imponente torre, sem loooongas tranças? Para não desprezá-la totalmente, digamos que, no mínimo, vai virar outra história.
O samadhi, experiência meditativa tão falada no yoga, é, na maioria dos casos, uma Rapunzel careca. Existem vários níveis de experiência mental ou emocional, cada nível tem marcas que geram alguns obstáculos, confusões, sofrimentos e outras marcas que geram bem-estar, felicidade. O samadhi é uma experiência temporária que, em princípio, não irá amadurecer ou “curar” todas as outras camadas emocionais. Ou seja, podemos ter algumas experiências interessantes, profundas, na meditação, mas continuarmos sendo bastante imaturos. O caminho do yoga exige de nós um olhar atento a cada um dos níveis emocionais, não há como fugir disso e ter frutos saudáveis. Seria mais fácil se pudéssemos nos isolar, criar um ambiente “místico” ou “acolhedor” e ali ficar à procura de experiências meditativas que nos remetessem a um grande estado de calma e, de quebra, ter todas as nossas confusões, dúvidas e conflitos emocionais resolvidos. Concordo, mas não foi assim que fomos criados. Nossa mente é mais complexa do que isso. A meditação, o samadhi, o pranayama, etc são meios, são práticas, não são o fruto. Assim como uma postura de yoga pode não ser saudável para uma determinada pessoa e um exercício respiratório especifico não ser adequado para outro, também a meditação e o samadhi têm suas limitações. Todas as práticas são ferramentas, acessórios, elas sozinhas não garantem amadurecimento e lucidez. O caminho do yoga exige ações, relações humanas e muito questionamento para nos levar a um ponto de maior clareza e felicidade bem alicerçada.
Experiências “profundas” não resolvem, sozinhas, nossas questões. Peguemos o exemplo de alguém que sente que ama profundamente a sua namorada ou namorado. Dependendo da estrutura e maturidade emocional desta pessoa, ela não conseguirá expressar isso de forma equilibrada e nem sequer conseguirá sustentar este sentimento por muito tempo. Podemos comparar esta experiência do “amar” com a experiência do “samadhi”. Ambas estão estabelecidas num nível mental profundo e ambas dependem de um amadurecimento de outros aspectos emocionais para que possam ser integradas e bem aproveitadas ou desfrutadas.
A pergunta a ser feita neste momento da reflexão poderia ser: mas é possível ter uma experiência de tanta calma e lucidez sem que tenhamos construído maturidade para integrá-la? A resposta é: sim. Todas as experiências se dão na mente, elas estão sujeitas a certas armadilhas de percepção, além de serem inconstantes por natureza. Isso ocorre também com o yoga. Nós podemos ter sensações de grande alegria, calma, bem-estar, silêncio interno, assim como podemos ter sensações de tristeza, confusão, temor. E esses dois extremos estão sujeitos às mesmas regras, eles vem e vão. Não é a experiência em si que nos beneficia, mas a sabedoria que nós podemos criar com a ajuda desta calma e clareza. Mais uma vez eu reforço, a experiência é só um meio. Este meio precisa de maturidade e conhecimento para ser bem aproveitado. Portanto, não deveríamos perseguir experiências, mas questionamento e autoconhecimento. Experiências isoladas facilmente alimentam nosso orgulho e arrogância, questionamento e autoconhecimento tendem a nos trazer mais humildade e discriminação. Não há técnica ou prática que substitua uma cuidadosa relação com as pessoas, com o mundo. Ressalto que não estou afirmando que técnicas ou práticas não são úteis. Elas, definitivamente, são úteis e necessárias, mas precisam estar dentro de um contexto que os antigos professores de yoga conheciam e sabiam proteger muito bem. A forma e o ambiente emocional no qual se dá este aprendizado técnico e, principalmente, humano, é que protege o correto fruto. Qualquer psicologia que se preze não vive de técnicas e nem só de palavras. Yoga é uma psicologia, assim nasceu e que assim sobreviva.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

O YOGA E A FONTE DA JUVENTUDE*



*Artigo de Maria Nazaré Cavalcanti (blog: nazarix.blogspot.com - tweeter: @nazarix)


É interessante observar que, na nossa cultura hoje, não só os velhos querem ser jovens: as crianças também. Outro dia minha sobrinha de 6 anos me disse que ela já era “quase pré-adolescente”... Fiquei sem saber se ria ou se me preocupava. As meninas dessa idade se maquiam, usam salto, pintam as unhas, coisa que na minha infância era absolutamente impensável. (E convenhamos que isso não faz tanto tempo, estou com 55).

Estranhamente, crianças e velhos querem ser e parecer teenagers, jovens, dinâmicos, se possível atléticos. Todos querem habitar o reino da Juventude. A própria palavra velhice foi banida e trocada por um eufemismo que não gosto de usar: terceira idade (argh!). Envelhecer é quase uma vergonha...

A Tradição Védica, a Índia antiga, oferece um referencial muito diferente a esse respeito. Nessa tradição, desde tempos imemoriais, o ciclo da vida é visto como composto de quatro etapas, tendo cada uma delas a sua prioridade.

Na primeira – que vai do nascimento aos 20 anos aproximadamente – somos Brahmacaris, ou seja: estudantes, aprendizes. Nessa fase, a prioridade é essa mesma: aprender, estudar, receber formação em todos os níveis.

Depois, ingressamos no casamento, na vida de família. Passamos a ser Grhasthas, “donos” de um lar, responsáveis por manter uma casa. A prioridade dessa fase – que vai dos 20 aos 60 mais ou menos - é amadurecer emocionalmente, tornar-se adulto através do desafio que os relacionamentos íntimos representam e, especialmente, pela oportunidade de ser pai/mãe, avô/avó, com tudo o que isso envolve.

Essa fase se encerra mais ou menos por aí... 60 anos, quando os primeiros netos estariam à nossa volta e já não teríamos tantas responsabilidades pela manutenção material e logística da família. Nesse momento, ingressaríamos no terceiro estágio, o do Vanaprastha, ou “aquele se que retira para a floresta”. A ”floresta” é o lugar de silêncio, de contemplação. Retirar-se para a floresta significa entrar no seu silêncio – e essa é a prioridade dessa etapa: meditar sobre o sentido profundo da existência. Meditar formalmente, levar a vida de maneira que favoreça a contemplação.

Por fim, a etapa que recebe o nome de Samnyasa: o final da vida propriamente dito, quando o mais importante é desprender-se, despedir-se, preparar-se para a morte e, especialmente, conhecer o que morre e o que não morre. É o momento de dedicar-nos à realização da nossa verdadeira natureza, à descoberta da nossa face original, aquela que está além das identidades que recebemos e assumimos ao longo da vida.

Essa é a moldura, o pano de fundo, onde se desdobram com infinita diversidade as vidas individuais.

É parecido com Primavera, Verão, Outono, Inverno... Primavera.

Nessa visão, a vida tem um ritmo, um desenho, um ciclo e todas as “estações” são vividas de forma consciente. Não se fica em busca de uma primavera eterna, custe o que custar. O envelhecimento e a morte do corpo têm como contrapartida o nascimento para a vida do espírito: o despertar para aquela dimensão que é sempre jovem, que está além do tempo e está em nós.

As práticas destinadas a preservar a saúde, como as que o Yoga oferece, existem para preservar a integridade desse ciclo, para que ele possa ser vivido do início ao fim. Uma vida longa e saudável pode então ser dedicada ao que realmente importa em cada etapa. E isso é o que mais facilmente nos permite amadurecer como seres humanos e alcançar a sabedoria, a clareza, a lucidez para a qual nascemos.

Para o Yoga, uma vida saudável, fundamentalmente, é uma vida lúcida.

A sabedoria costuma vir acompanhada de simplicidade, de leveza e daquela alegria serena que faz com que os olhos brilhem. Talvez seja essa a juventude a ser buscada – aquela que a sabedoria gera espontaneamente. Não é lúcido tentar manter-se eternamente jovem pela manipulação de realidades externas.

Por fim, foi Lou Salomé quem disse aquilo em que acredito: primeiro vivemos a juventude, depois a juventude vive em nós.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Um ponto de interrogação compartilhado

(Dedico este artigo ao meu segundo filho, Luan, nascido dia 30 de março de 2009. Que muitos pontos de interrogação o acompanhem.)

Considero que a busca de certezas seja intrínseca ao ser humano, mesmo que elas estejam muito distantes. E é importante que nos tornemos conscientes desta nossa necessidade de encontrar respostas definitivas. Porém, a dúvida (enquanto questionamento) nos é muito mais familiar e não há como amadurecer sem sua presença constante.

Por mais que a dúvida e a certeza pareçam antagônicas à primeira vista, nossa razão diz que não o são. Mas, infelizmente, na maioria das vezes não exercemos este antagonismo. O que seria praticar este antagonismo? A proposta é nutrirmos a dúvida a um nível que não estamos acostumados a nutrir, pois alimentando-a além do habitual poderemos saciá-la verdadeiramente. A dúvida é como um grande animal faminto, não é fácil saciá-la. Nossas frustrações, cansaços, tédio, sãos algumas de suas manifestações, pois só enganamos a sua fome e tentamos convencê-lo de que o alimento dado foi suficiente.

Sendo o yoga uma abordagem psicológica, a reflexão tem papel fundamental. E o treinamento do antagonismo é proposto explicitamente na prática chamada “pratipaksa bhavana”, que se caracteriza pelo exercício da reflexão através da ponderação do ponto de vista oposto ao qual eu experiencio. A isso se segue a análise dos resultados diretos e indiretos desta mudança de visão.

Porém, a tarefa de reconhecimento e análise de nossas crenças e atitudes não é tão simples. Como somos os responsáveis principais pela estruturação e sustentação de nossas crenças, nosso questionamento dificilmente se apresenta de forma desapegada e ampla. Eis o motivo pelo qual é indicado o auxílio de um “professor-terapeuta” para o sucesso deste processo. E qual o papel deste professor? Exercer justamente aquelas qualidades que são esperadas de nós mesmos em uma análise franca, qualidades estas que infelizmente se tornam difíceis de acessar quando nos encontramos em situações de conflito. O professor deverá, portanto, ser uma referência de ausência de julgamento, dar auxílio na construção de um questionamento mais aberto e amplo (oferecendo novos “pontos de interrogação”) para que se abram novos caminhos de reflexão. Para que o professor possa assumir seu papel fica clara a necessidade de que ele tenha conhecimento da forma como se estruturam as “armadilhas emocionais” do ser humano. Além de conhecimento teórico, o “professor-terapeuta” só poderá criar a empatia, humildade e sabedoria necessárias ao exercício do seu papel caso vivencie o mesmo processo com seu próprio “professor-terapeuta”. Um professor precisa amadurecer continuamente sua própria capacidade de ser aluno.
Se o professor não vivenciar profundamente o papel de “aluno-paciente”, haverá riscos de grande vulnerabilidade na construção do seu papel de “professor-terapeuta” e dificilmente ele terá condições de estabelecer um vínculo profundo (empatia) entre ele e o “aluno-paciente”.

Por isso evito definir o yoga como um “conjunto de técnicas”. A busca sincera pelo amadurecimento humano e o vínculo que cria as condições para que este crescimento ocorra não estão no campo do domínio técnico, estão no coração. A pressa em encontrar certezas pode facilmente nos conduzir a uma percepção rígida da dinâmica da vida. Quem não teme suas próprias interrogações está mais perto da essência fluida da vida.