............Dedicado aos Profs. TKV Desikachar e T. Krishnamacharya (1888-1989)............Um Blog sobre medos, felicidade, sofrimento, prazer - sobre o que nos traz realização e sobre o que nos traz frustração - tudo isso a partir da psicologia do Yoga.
domingo, 12 de maio de 2013
PRA ONDE EU VOU? VENHA TAMBÉM... -VISÕES DA PSICOLOGIA DO YOGA
Psicologias:
Um dos alicerces da Psicologia do Yoga é a estrutura de
percepção do ser humano. Na grande maioria das Psicologias modernas a mente é
vista como sendo a única responsável pela observação do mundo. O yoga não nega
a realidade da mente, mas estabelece uma composição mais complexa.
Entendendo o modelo
de percepção do Yoga:
A mente, em conjunto com os sentidos, é vista como um
instrumento intermediário na relação com os objetos. Há algo mais amplo que a
mente, algo que a autoriza, que dá suporte à sua função. Esse algo é chamado de
“Drashta”, palavra que indica “aquele que vê”, e deve ser entendido como a mera
presença de inteligência, de vida. Já a mente é o instrumento que direciona
essa inteligência para uma função específica, que é o relacionamento com os
objetos dos sentidos.
Para que possamos entender de forma mais prática o papel de
um intermediário podemos nos utilizar da compreensão que temos a respeito dos
sentidos. Do ponto de vista da mente e dos objetos, os sentidos possuem a
tarefa de intermediar a percepção. O sentidos não são a autoridade máxima, há
uma outra realidade que dá sentido à sua função. Essa realidade é a mente. Cabe
ao sentido “sentir” o odor, a temperatura ou o gosto de um objeto e passar essa
informação à mente. Assim, a mente poderá realizar sua função, que é
interpretar essa informação. A mente sem os sentidos seria impedida de exercer
seu papel, estaria presa em sua incapacidade de descobrir as qualidades dos
objetos do mundo. Como podem os objetos serem interpretados sem que sejam
vistos ou escutados, sem terem cheiro, temperatura ou gosto? O que restaria à mente
encarcerada? Algumas atividades mentais sobreviveriam, mas não aquelas relativas
ao reconhecimento de objetos externos. Pois da mesma forma que podemos entender
esse importante papel intermediário dos sentidos, poderemos entender que a
mente também é considerada uma intermediária sob o ponto de vista do Yoga. Ela
é responsável por registrar e analisar a informação recebida dos sentidos, mas
ela precisa dessa inteligência básica para cumprir com sua tarefa.
E qual a importância
de sabermos disso?
Assim como podemos experienciar a ação dos sentidos, também
podemos experienciar a ação da mente. E assim como podemos, com um certo treinamento,
experienciar a mente ainda presente quando os sentidos já se calaram, também
poderemos experienciar a presença de algo mais profundo (a mera presença de
vida) quando a mente se calar.
Quanto mais pudermos ter acesso a uma experiência mais
interna e mais profunda, mais relativizaremos cada um dos níveis de nossa existência.
Por exemplo, uma pessoa que acredita que o olfato é a única fonte de satisfação
do ser humano agirá compulsivamente na busca de odores refinados. Já uma pessoa
que reconhece que há cinco diferentes formas de desfrute no mundo dos objetos
se sentirá mais rica e não se limitará à busca de satisfação apenas através do
olfato. Da mesma forma, aquele que reconhece que há outros níveis de
experiência não se restringirá ao desfrute de um único nível e, também, terá
condições de questionar e comparar os frutos de cada um dos níveis de
experiência.
O estudo dessa estrutura não é tudo, também precisamos
treinar a nossa percepção profunda. Por mais que nossa educação escolar tenha
sido completamente falha e medíocre nesse sentido, existe sim um conhecimento
que trata desse treinamento. Esse conhecimento se chama Yoga Darshana.
Infelizmente, nem tudo o que na atualidade é chamado de Yoga trata, de fato, do
treinamento dessa visão.
Nutrindo
Cada uma de nossas camadas nutre diferentes aspectos. O
prazer dos sentidos nos traz uma determinada satisfação, uma alimentação
saudável e nutritiva pode nos trazer uma outra satisfação mais sutil e
refinada, já encontrar a solução para uma problema pode trazer grande alívio e
alegria, o relaxamento pode nos levar “ao céu”, amar e ser amado pode também
alimentar nosso coração de forma que deixemos todas as outras necessidades de
lado. Há vários níveis de desfrute, de nutrição, várias formas de “alimento”.
E, da mesma forma, cada camada pode trazer perturbação,
desequilíbrio. Quando percebemos a nós mesmos de forma integral, quando
reconhecemos que não somos apenas corpo, ou apenas sentidos, ou apenas mente,
descobrimos que o cuidado com cada um desses níveis é uma etapa importante para
nossa realização pessoal como um todo. Não basta apenas satisfazermos o corpo,
nem será suficiente satisfazer apenas os sentidos ou a mente. Precisamos abrir
os olhos mais e mais. Precisamos transitar em todas essas esferas da
experiência humana de forma a não gerar perturbações que impeçam a descoberta
da camada que a antecede. Um corpo doente impede o bom funcionamento dos
sentidos, os sentidos perturbados não fornecem informações corretas à mente,
uma mente agitada ou entorpecida impede a experiência da satisfação mais
profunda acessível ao ser humano, impede a experiência da vida plena em si
mesma, seja na presença de suas funções específicas, seja na ausência das mesmas.
Ou eu ou não
Há outra alternativa? Sim. A outra alternativa é não viver a mim mesmo.
Ou caminho em direção a mim mesmo, encontrando aquilo que é o coração da minha própria
existência, ou me entrego à falsa carcaça que tomei emprestada de tudo o que
não é eu.
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Jorge Luís Knak
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Jorge Luís Knak
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