“Eu não acredito ser possível ensinar meditação em grupo,
mas espero estar errado”
Prof. TKV Desikachar
O homem existe em espírito e em matéria. Além disso, cada
indivíduo é fruto de uma comunhão única dos dois aspectos. Parto dessa
premissa. Na verdade, mesmo do ponto de vista unicamente materialista, essa
diversidade está assegurada. Pausa para um chá...precisamos apreciar isso,
devemos nossa integridade a essa compreensão. Para que seja, então, contemplada
a riqueza dessa comunhão, cada pessoa terá seu caminho particular no
aprendizado de yoga. Assim é e assim era na abordagem tradicional clássica.
As ferramentas práticas ou as técnicas do yoga são inúmeras,
entre elas estão inseridas práticas que envolvem o corpo, a respiração, o
direcionamento mental, as emoções, a reflexão sobre o relacionamento consigo e
com o mundo, a meditação a respeito da natureza da realidade, entre outras. Porém,
em meio a essa grande diversidade de técnicas, na escritura central do yoga surge
o conceito de “viniyoga”, que se destaca quando o assunto é ensino. Viniyoga
significa aplicação apropriada, que revela a necessidade de uma análise a
respeito do momento e da forma pela qual cada instrumento é utilizado. A
técnica escolhida deve ser aplicada apenas após o professor ter conhecimento
sobre as verdadeiras qualidades do praticante, adaptada de acordo com seu
histórico e condições pessoais e adotada no momento em que tal prática tenha
relevância. Esse conceito traz em si a reverência que o yoga manifesta perante
a multiplicidade e diversidade. Somos muitos e somos diferentes, assim é, assim
sempre será. O aprendizado está em apreciar essas diferenças e desenvolver conhecimento
ou discriminação, não em fechar os olhos para elas e seguir um movimento
pré-estabelecido.
Infelizmente, em praticamente todas as culturas modernas, a
apreciação profunda do papel da diversidade e multiplicidade parece estar em
decadência. Sistemas de conhecimento e tradições espirituais que, no passado,
eram embasados em um relacionamento de coração entre professor e aluno, hoje
são transmitidos sem vínculo pessoal. E isso, definitivamente, é também o
problema moderno que precisa ser combatido no próprio meio do yoga. A tendência
de nossa cultura moderna é apresentar receitas milagrosas e fixas, técnicas que
servem ao usuário independentemente de seu nome, de sua história de vida e de
seus questionamentos.
No yoga há várias palavras que começam com o prefixo “sva”.
Entre elas “svadhyaya”, “svadharma”, “svabhava”, “svatantra”. “Sva” significa
“si mesmo”. Em todas as palavras citadas esse prefixo se refere àquilo que me
diferencia do outro. E essa diferenciação precisa ser acolhida, e não julgada
nem eliminada. É justamente por isso que devemos lembrar de algo essencial para
a reflexão que aqui se apresenta: a prática de meditação do yoga é composta de
uma maneira muito pessoal. Não estamos tratando aqui de meios genéricos para
acalmar a mente que, com certeza, podem também trazer grandes benefícios em
práticas de grupo.
A cada vez que um professor comprometido com o ensino senta
junto a um aluno, ele repensa a si mesmo, ele escuta, reflete e, junto com o
aluno, constrói. Não há construção prévia para aquele que, de fato, se
compromete com o papel de educar um indivíduo, pois ele mesmo faz o voto de
educar a si mesmo no aprendizado que nascerá da relação. Sem escuta não há
possibilidade de ensino real, esse conceito ao qual o educador deve se agarrar
enquanto desempenha seu papel é chamado no yoga de “mauni”. Obviamente, se a
relação não consegue chegar a essa comunicação de coração, o escutar também não
poderá gerar nada vivo. Há dois lados envolvidos, o fruto depende de ambos. TKV
Desikachar, professor de yoga que defendia insistentemente a importância do
relacionamento individual entre professor e aluno, desempenhou uma função muito
importante ao amadurecer esse ponto de vista na mente de professores renomados
do mundo inteiro. Ele afirmava que essa relação muitas vezes pode levar anos a
ser construída verdadeiramente e, algumas vezes, nem ao longo dos anos se
estabelecerá. Mas essa visão não é dele,
é de um sistema de milhares de anos. Foi através dessa relação de coração que
ele aprendeu com seu pai, e foi dessa forma que seu pai aprendeu com seus
professores. Assim foi transmitido o yoga por dezenas e dezenas de séculos,
através da crença na experiência individual, através do valor pela integridade
de cada ser humano. Se isso não for apreciado não há possibilidade de yoga em
seu sentido último.
A frase de Desikachar, que se encontra na apresentação deste
texto, trata da impossibilidade do ensino de meditação em grupo, mas ele
poderia ter substituído a palavra meditação por asana, por pranayama e por
qualquer outra técnica, pois todos os grandes mestres não acreditavam na
técnica, acreditavam no ser humano.
Ainda assim, o próprio Prof. TKV dirigia práticas de
meditação em grupo em certas situações, pois sabia da importância de mostrar às
pessoas o valor dessa prática. É como alguém que oferece um pedaço de pão a um
faminto sem deixar que se apague a consciência de que aquele pão não solucionará
a sua fome. Eis o segredo, oferecer o pão sem esquecer a real função e
limitação do gesto. Eis o segredo, eis o desafio.
4 comentários:
Escelente o Blogger. Namastê <3
Excelente o blogger. Namastê _/|\_ <3
thx
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thank you
سعودي اوتو
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