quarta-feira, 3 de outubro de 2012

O YOGA E A FONTE DA JUVENTUDE*



*Artigo de Maria Nazaré Cavalcanti (blog: nazarix.blogspot.com - tweeter: @nazarix)


É interessante observar que, na nossa cultura hoje, não só os velhos querem ser jovens: as crianças também. Outro dia minha sobrinha de 6 anos me disse que ela já era “quase pré-adolescente”... Fiquei sem saber se ria ou se me preocupava. As meninas dessa idade se maquiam, usam salto, pintam as unhas, coisa que na minha infância era absolutamente impensável. (E convenhamos que isso não faz tanto tempo, estou com 55).

Estranhamente, crianças e velhos querem ser e parecer teenagers, jovens, dinâmicos, se possível atléticos. Todos querem habitar o reino da Juventude. A própria palavra velhice foi banida e trocada por um eufemismo que não gosto de usar: terceira idade (argh!). Envelhecer é quase uma vergonha...

A Tradição Védica, a Índia antiga, oferece um referencial muito diferente a esse respeito. Nessa tradição, desde tempos imemoriais, o ciclo da vida é visto como composto de quatro etapas, tendo cada uma delas a sua prioridade.

Na primeira – que vai do nascimento aos 20 anos aproximadamente – somos Brahmacaris, ou seja: estudantes, aprendizes. Nessa fase, a prioridade é essa mesma: aprender, estudar, receber formação em todos os níveis.

Depois, ingressamos no casamento, na vida de família. Passamos a ser Grhasthas, “donos” de um lar, responsáveis por manter uma casa. A prioridade dessa fase – que vai dos 20 aos 60 mais ou menos - é amadurecer emocionalmente, tornar-se adulto através do desafio que os relacionamentos íntimos representam e, especialmente, pela oportunidade de ser pai/mãe, avô/avó, com tudo o que isso envolve.

Essa fase se encerra mais ou menos por aí... 60 anos, quando os primeiros netos estariam à nossa volta e já não teríamos tantas responsabilidades pela manutenção material e logística da família. Nesse momento, ingressaríamos no terceiro estágio, o do Vanaprastha, ou “aquele se que retira para a floresta”. A ”floresta” é o lugar de silêncio, de contemplação. Retirar-se para a floresta significa entrar no seu silêncio – e essa é a prioridade dessa etapa: meditar sobre o sentido profundo da existência. Meditar formalmente, levar a vida de maneira que favoreça a contemplação.

Por fim, a etapa que recebe o nome de Samnyasa: o final da vida propriamente dito, quando o mais importante é desprender-se, despedir-se, preparar-se para a morte e, especialmente, conhecer o que morre e o que não morre. É o momento de dedicar-nos à realização da nossa verdadeira natureza, à descoberta da nossa face original, aquela que está além das identidades que recebemos e assumimos ao longo da vida.

Essa é a moldura, o pano de fundo, onde se desdobram com infinita diversidade as vidas individuais.

É parecido com Primavera, Verão, Outono, Inverno... Primavera.

Nessa visão, a vida tem um ritmo, um desenho, um ciclo e todas as “estações” são vividas de forma consciente. Não se fica em busca de uma primavera eterna, custe o que custar. O envelhecimento e a morte do corpo têm como contrapartida o nascimento para a vida do espírito: o despertar para aquela dimensão que é sempre jovem, que está além do tempo e está em nós.

As práticas destinadas a preservar a saúde, como as que o Yoga oferece, existem para preservar a integridade desse ciclo, para que ele possa ser vivido do início ao fim. Uma vida longa e saudável pode então ser dedicada ao que realmente importa em cada etapa. E isso é o que mais facilmente nos permite amadurecer como seres humanos e alcançar a sabedoria, a clareza, a lucidez para a qual nascemos.

Para o Yoga, uma vida saudável, fundamentalmente, é uma vida lúcida.

A sabedoria costuma vir acompanhada de simplicidade, de leveza e daquela alegria serena que faz com que os olhos brilhem. Talvez seja essa a juventude a ser buscada – aquela que a sabedoria gera espontaneamente. Não é lúcido tentar manter-se eternamente jovem pela manipulação de realidades externas.

Por fim, foi Lou Salomé quem disse aquilo em que acredito: primeiro vivemos a juventude, depois a juventude vive em nós.

Um comentário:

Sabrina disse...

Lindo e profundamente verdadeiro, Nazaré...